"No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração. "

Rabindranath Tagore








terça-feira, 6 de março de 2012




Parecendo que o dia principiava uma ponta de nostalgia, mas já era um outro alguém chegando.
A voz não tava clara, pressentimentos são confusos como violão que desconhece a melodia.
Era como se precisasse elaborar antes de tudo, o sentimento que ela ia trazer, aquela voz.
Então, ela determinou com a convicção de alguém que quer parar de beber, de sofrer, de fumar, de comer carne ou de qualquer coisa que incomode de algum jeito, que seria apenas saudável e recíproco.
Tava cansada dos olhos afogados na ausência de um perfume ou de uma espécie de lirismo estúpido, como sempre.

(Percebeu o final do sufoco na mudança do foco).

O que o dia queria dela, trazendo as cores do olhar do passado?
Não queria mais aquilo.
Tava cansada.
Ficou lembrando cenas que nem quis contar porque deu raiva.
Que se assim o fim, melhor que assim o fosse.
Mas sabia mesmo é que o verde que viria, reflorestaria aqueles olhos de imensas esperanças.
Achou boa a sensação que a imagem trouxe e guardou num gesto: fez um movimento de mãos no ar e trouxe pro peito.
Sorriu e calou. (E os olhos permeados do mistério bom).
Subitamente, a sensação de chegada de um outro alguém já era presença.
Foi custoso pra ela entender o que uma pessoa podia trazer de novidade e poesia
 só por sorrir daquele jeito de quem se entrega à risada.
Tinha bonitezas demais naquele interesse dele: arregalava o corpo pra ouvir a frase que ela dizia,
 sem precisar escolher o tema_ era só elogiar o céu ou o mar, ou a cor dos dois.

(E, na soberania dessa simplicidade, a coisa toda se deu.)


Nenhum comentário: