"No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração. "

Rabindranath Tagore








segunda-feira, 14 de abril de 2014




És parecida com a Terra. Essa é a tua beleza.
Era assim que dizias.

E quando nos beijávamos e eu perdia respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que dia nasceste?

E me respondias, voz trémula:
estou nascendo agora.

E a tua mão ascendia
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde nasceste?

E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti, meu amor.

Era assim que dizias.

Tu eras um poeta
Eu era a tua poesia.

Mia Couto





sexta-feira, 11 de abril de 2014





"Perdido na própria angústia, entre devaneios e aflições que ninguém pode resolver, talvez nem mesmo quem a sente. Parar, respirar e observar o que se sente pode ser o segredo de conseguir conviver com a própria angústia. A alma sofre pela amargura que a mente produz – e o corpo se dilacera pela falta de energia que vaza pelas entranhas do sentir e míngua o ser.
Pobre de quem a angústia abriga…"
Bia Tannuri


Chao de Giz - Ze Ramalho

♫ ♫ 

Um dia desses a caminho do trabalho, fone no ouvido, tocava Chão de Giz...
Pensamento longe e ao mesmo tempo minha atenção estava na letra da música. 
Chegando ao trabalho comentei sobre a letra com uma amiga que também gosta muito do cantor e da música...até que ela me perguntou se eu sabia que a música era parte da vida do Zé.
Foi assim que descobri, que não somente eu, mas muitos tinham a mesma curiosidade de saber qual o significado da letra.
Já achava linda...agora, acho perfeita.
Então quero compartilhar com vocês:

Explicação dada, em tese, pelo próprio compositor, O GRANDE POETA ZÉ RAMALHO, sobre Chão de Giz:
Ainda jovem, o compositor teve um caso duradouro com uma mulher bem mais velha que ele, casada com uma pessoa bem influente da sociedade de João Pessoa, na Paraíba, onde ele morava. Ambos se conheceram no carnaval. Zé Ramalho ficou perdidamente apaixonado por esta mulher, que jamais abandonaria um casamento para ficar com um “garoto pé -rapado”. Ela apenas “usava-o”. Assim, o caso que tomava proporções enormes foi terminado. Zé Ramalho ficou arrasado por meses, mudou de casa, pois morava perto da mulher e, nesse meio tempo, compôs Chão de giz.
Sabendo deste pequeno resumo da história, fica mais fácil interpretar cada verso da canção. Vamos lá!

“Eu desço desta solidão e espalho coisas sobre um chão de giz”
Um dos seus hábitos, no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos dois. O chão de giz indica como o relacionamento era fugaz.

“Há meros devaneios tolos, a me torturar”
Devaneios e lembranças da mulher que não o amou. O tinha como amante, apenas para realizar suas fantasias. Quando e como queria.

Fotografias recortadas de jornais de folhas amiúdes”
Outro hábito de Zé Ramalho era recortar e admirar TODAS as fotos dela que saiam nos jornais – lembrem-se, ela era da alta sociedade, sempre estava nas colunas sociais.

“Eu vou te jogar num pano de guardar confetes”
Pano de guardar confetes são balaios ou sacos típicos das costureiras do Nordeste, nos quais elas jogam restos de pano, papel, etc. Aqui, Zé diz que vai jogar as fotos dela nesse tipo de saco e, assim, esquecê-la de vez.

“Disparo balas de canhão, é inútil, pois existe um grão-vizir”
Ele tenta ficar com ela de todas as formas, mas é inútil, pois ela é casada com um homem muito rico.

“Há tantas violetas velhas sem um colibri”
Aqui ele utiliza de uma metáfora. Há tantas violetas velhas (Como ela, bela, mas velha) sem um colibri (um jovem que a admire), dessa forma ele tenta novamente convencê-la apelando para a sorte – mesmo sendo velha (violeta velha), ela pode, se quiser, ter um colibri (jovem).

“Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus”
Este verso mostra a dualidade do sentimento de Zé Ramalho. Ao mesmo tempo que quer usar uma camisa de força para se afastar dela, ele também quer usar uma camisa de vênus para transar com ela.

“Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro”
Novamente ele invoca a fugacidade do amor dela por ele, que o queria apenas para “gozar o tempo de um cigarro”. Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela um profundo amor e tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo de se fumar um cigarro.

“Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom”
Para quê beijá-la, se ela quer apenas o sexo?

“Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez…”
Novamente ele resolve ir embora, após constatar que é impossível tentar algo sério com ela. Entretanto, apaixonado como está, vai novamente à lona – expressão que significa ir a nocaute no boxe, mas também significa a lona do caminhão, com o qual ele foi embora – ele teve que sair de casa para se livrar desse amor doentio.

“Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar”
Amor inesquecível, que acorrenta. Ela pisava nele e ele cada vez mais apaixonado. Tinha esperanças de um dia ser correspondido.

“Meus vinte anos de ‘boy’ – that’s over, baby! Freud explica”
Ele era bem mais novo que ela. Ele era um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse (Complexo de Édipo, talvez?).

“Não vou me sujar fumando apenas um cigarro”
Depois de muito sofrimento e consciente que ela nunca largaria o marido/status para ficar com ele, ele decide esquecê-la. Essa parte ele diz que não vai se sujar transando mais uma vez com ela, pois agora tem consciência de que nunca passará disso.

“Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval”
Eles se conheceram em um carnaval. Voltando a falar das fotos dela, que iria jogar em um pano de guardar confetes, ele consolida o fim, dizendo que já passou seu carnaval (fantasia), passou o momento.

“E isso explica porque o sexo é assunto popular”
Aqui ele faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela (ou dela por ele): sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois apenas ele é valorizado. Ela só queria sexo e nada mais.

“No mais, estou indo embora”
Assim encerra-se a canção. É a despedida de Zé Ramalho, mostrando que a fuga é o melhor caminho e uma decisão madura. Ele muda de cidade e nunca mais a vê. Sofreu por meses, enquanto compôs a música.





quarta-feira, 9 de abril de 2014

Nunca sabemos ao certo quando deixamos de ser importantes




"Nunca sabemos ao certo quando deixamos de ser importantes.
É triste perceber que quem tanto me importa não olha por mim, apenas me vê. Não altera em nada sua lista de prioridades quando preciso de socorro, atenção. Apenas (depois, sempre depois) desculpa-se. Diz que as coisas estão complicadas. Está constantemente ocupado, atrapalhado. Sempre se sai com ótimos motivos para não ter ido, feito, acompanhado. Conhece meus gostos, minhas neuras, o porquê do riso rasgado. Sabe o número do meu telefone, onde vivo, mas mora num outro universo, do qual não tenho o endereço, nem pertenço: é péssimo notar que sou pouco para quem é muito pra mim.

(...)

Talvez percamos o sentido de existir na vida de algumas pessoas, por mais importantes que tenhamos sido (ou que supomos ter sido). Nossa permanência torna-se oca de significado. Desbota. Gradualmente, sumimos. E não há nada de errado nisso. De triste, sim (todo fim é triste), mas não de errado: não dá para exigir ser amado. Errado é mantermos à nossa volta, atrelados a nós por compulsão ou necessidade de companhia, quem não tem mais nada a nos oferecer. Para quem oferecemos tão pouco.

Quantos sinais são necessários até compreendermos que ninguém mais se importa?"

Ailin Aleixo






"Você prometeu que estaria no outro trapézio
quando eu soltasse o meu,não prometeu?
Por isso eu balançava de olhos fechados.
Sem medo.
Por isso eu ficava de cabeça pra baixo nesse pedaço de madeira suspenso por duas cordas.
Você garantiu que me seguraria pelos dois punhos e me levaria para o outro lado.
Que haveria alguém no fim do meu salto.
Você juntou os pés e jurou que não me deixaria cair nesse número sem rede.
Com a cara no picadeiro.
Foi por acreditar em você que gasto mais uma das minhas vidas.
Morro mais uma vez pela sua ausência".



Eduardo Baszczyn







Pelo que sei a vida nunca andou em linha reta. E em muitas dessas curvas a gente se perde. Perde tempo com besteiras e tolices. Sem explicação, tudo é parte do aprendizado. Toda bagagem é necessária. Tudo que vivemos tem um significado específico e especial em nossas vidas. Nada nem ninguém deve ser considerado como maior ou melhor que determinada coisa. Todos tem sua importância. Embora muitos não revelem de imediato o seu significado em nossa vida, lá na frente tudo se explica.


O que você tem feito com o que tem hoje?

Oportunidades não voltam. Por isso, encare a vida como um presente.
Único. Um dom. Uma dádiva. Aproveite. Sorria. Deixa fluir.
Aprenda a encarar todo tempo como precioso.

Aquilo que se foi, foi embora por uma razão. E se depois de algumas despedidas você precisa de um tempo, um longo tempo, para se reencontrar, faça isso. O que está dentro de nós vale ouro e apenas no silêncio, no vazio, na presença do meu eu comigo mesma que posso descobrir o que há de melhor aqui dentro. Se avalie por dentro e ao redor. Nada é mais importante do que NÓS mesmos. 


Recomece quantas vezes forem necessárias. Não tenha medo de errar.
Estamos aqui para evoluir, para sermos melhores.
Esta vida não vem com manual,
o que indica que ainda vamos errar muito até dizer: agora sim!

Kelly Gomes




terça-feira, 8 de abril de 2014





"Talvez você. Talvez nós. Talvez um dia. Te guardo nas distâncias, te busco no céu da madrugada. Clareza, inocência e doçura: é só o que quero. Saudades, sorrisos e suspiros: é só o que guardo. É tão bonito que nem sabe; toca tão fundo e nem faz idéia. A mágica suave das sintonias finas. Raríssimas como eclipses, cintilantes feito cometas. Bagunçam tudo. Abrem janelas, batem portas, limpam os caminhos. E varrem para sempre todas as cinzas de tristezas passadas. 

Te quiero.

 Para algumas coisas, se reza baixinho, se pede em silêncio.
Um pouco de fé, no tempo exato.
Talvez com calma.
Talvez dê certo.
Fecha os olhos, que logo chega.
E vai ser bom."

Paula Pfeifer





segunda-feira, 7 de abril de 2014






"Pois é, tem sido bem estranho. A vida como novidade assusta.
Um nervosismo viver hoje em um pouco de amanhã.
Traço a traço sem achar a linha reta.
Uma busca de sabe-se lá o que ou quando.
Me pego com apego ás coisas banais, singelas e simples que ando descobrindo por aí.
Por onde eu andei todo esse tempo?
Tudo anda me tirando o fôlego, principalmente o que eu ainda não conheço."

Josi Puchalski





domingo, 6 de abril de 2014






...

O que existe além do que ja foi dito sobre o amor? Toda minha vida pautada em amores que tive ou gostaria de ter. Falando sobre os que tive, também não tenho muito que dizer. Amei e fui muito bem amada. Mas foi um amor, um único amor, que veio cruzou minha vida, tocou minha alma e ficou marcado em minha pele.
Todos nos carregamos com nós uma história. Aquela que só nos atrevemos a lembrar, quando durante a noite no escuro, enconstamos nossas cabeças no travesseiro e o silêncio cala fundo.
Não importam os anos, certas coisas simplesmente permanecem. Mas então, numa quinta-feira a tarde de um ano qualquer, tropeçamos nesse amor já supostamente esquecido. Percebemos que amor igual não há e que aquela pessoa continua e continuará a ser nossa referência afetiva mais sincera e profunda.
Não é doença nem obsessão. Aliás não e nada, só amor. Amor dos bons, daqueles que são únicos e maravilhosos, que acontecem poucas vezes na vida das pessoas. Daqueles amores que ficam e que teremos que conviver com ele como algo concreto e parte de nossas vidas.
Que alma consegue atravessar a vida sem ter conhecido o amor e quem sabe, ter a sorte de ser correspondido? Que vida vale a pena sem amor? Nenhum sentimento é mais lindo profundo e transformador que o amor. Só amor transcende e purifica, enlouquece e cura, invade, permanece, liberta e aprisiona. Quando acontece é um som grave que penetra invade e permanece.
Não compliquem e nem elaborem o sentimento mais incrível e poderoso de todos. Permitam que eles cheguem e se instale. Porque o resto são bobagens meninos, bobagens.

Amarelo Amor

sábado, 5 de abril de 2014





"E os problemas, a vida real, as durezas, provações, angústias? E as tristezas secretas que carregamos, cujo peso insuportável deve ser levado nas costas como um saquinho dourado deplumas? São um porre, uma droga, o pacote completo da chateação. Mas o que seria da gente sem toda a dor, todo choro da madrugada que ninguém ouve nem vê, todas as pontadas no coração, sufocos? Nunca desejei ter o sorriso sórdido e o semblante superior daqueles que jamais sofreram. E apesar do desatino de precisar conviver com um punhado de problemas-sem-solução, feridas antigas  e dissabores eternos, acho uma delícia conseguir ficar mais fortea cada tsunami que passa. A capacidade de saborear a leveza da vida só chega depois de muita porrada na cara; a sensatez só dá oizinho depois que te viu destroçada em mil pedaços. O que importa é não se transformar numa criatura amarga, invejosa e negativa no caminho. E vem cá, me diz: você queria ser aquela pessoa bobinha e com quilometragem zero de muitos anos atrás? Eu, não! Sofreu, chorou, apanhou? Agradeça aos céus pelos ensinamentosBut, please,aprenda alguma coisa e siga em frente. A vida é ligeira."

Paula Pfeifer




sexta-feira, 4 de abril de 2014





Pra parte surda do coração ouvir, faça silêncio.
Tati Bernardi


quinta-feira, 3 de abril de 2014



"Olha, perdoe esse meu cansaço, esse meu suor. Corri tanto, tanto... Desfaleci. Hoje o desafeto demorou um pouco mais na cozinha. Cortei os legumes com tanta pressa que quase aprontei com os dedos (com os medos, quem me dera). Fiquei aflita com esse texto se aninhando em minha mente enquanto eu estava lá absorta, com um suspiro preocupado que nunca soube repousar. Hoje sou só algumas mãos arredias cuidando dos tomates, esmiuçando os pensamentos. Hoje pra mim ainda é ontem. O amanhã cansou de chegar. Estou levemente desamparada, esvoaçada, ouvindo a mesma música. (O mar dessa canção me (co)move, me sensibiliza). Mas estou incomodada ainda, observando. Arrumei a casa de um jeito tão negligente que suspeito estar assim por dentro: do avesso. Poeira maior deixo sobre a mesa — de centro. Centro do meu mundo, do meu tudo, ventre desarrumado. Ainda não pude desincrustar a alma com alguma alegria. Logo cedo recebi visitas, preciso esperar a hora dos choros. A dor precisa de espaço para se repetir e morar, e logo depois sair imune, dissolvida. Por um momento sinto-me bem. Poesia salva, sabia? Uma salvação repentina que me diminui pra ficar maior... Quase não consigo contê-la nesse trecho. Pretendo esperar o próximo parágrafo enquanto dou um jeito nesta cama. Quase agora um Amor antigo questionou o meu silêncio e adicionou, cheio de medo: “Entendo, tem dias que a gente não está pra ninguém, não é?”, fiquei um pouco mais triste por envolvê-lo nesse meu cansaço (tão antigo, tão pequeno) e respondi, cheia de dedos: “Se quiser, você pode não estar pra mim hoje também. Vou gostar de você do mesmo jeito, talvez, de um jeito um pouco maior”. E ele me enviou um sorriso tão teimoso, desentendido e bonito que eu desisti — Meu Deus, eu desisti!! — da amargura do meu próximo desalento. Poesia salva, sabia? Poesia salva..." 

Priscila Rôde