"Não sei se foi por preguiça, por condicionamento, pela dificuldade de estarmos plenamente atentos no instante de cada ação. O fato é que a planta havia morrido há semanas e durante todo aquele tempo eu continuei a regá-la, como se estivesse ali. O vaso cheio de terra, vazio de verde, permanecia no mesmo lugar, entre os outros, como se nada houvesse acontecido. Toda vez que eu repetia o movimento, eu me dava conta da estranheza do meu gesto, mas acabava me entretendo com outra coisa e adiava mais uma vez a retirada do vaso.
Outra hipótese é o embaraço que às vezes temos para reconhecer a morte das coisas. Para aceitar que o tempo delas acabou, embora possa ser tão óbvio como um vaso sem planta. A começar pelos padrões de comportamento que já repetimos com desconforto porque em nada se parecem com as pessoas que somos agora. Talvez evitemos retirá-las do nosso contexto porque a retirada costuma afetar a estrutura aparentemente organizada do conjunto, como acontece no jogo de pega-varetas. A maioria de nós aprendeu a não mexer com o que está quieto, mesmo quando essa quietude significa que não corre mais nenhum vento de vida ali.
Nossos gestos de desapego são capazes de criar espaço para o novo.
Outra hipótese é o embaraço que às vezes temos para reconhecer a morte das coisas. Para aceitar que o tempo delas acabou, embora possa ser tão óbvio como um vaso sem planta. A começar pelos padrões de comportamento que já repetimos com desconforto porque em nada se parecem com as pessoas que somos agora. Talvez evitemos retirá-las do nosso contexto porque a retirada costuma afetar a estrutura aparentemente organizada do conjunto, como acontece no jogo de pega-varetas. A maioria de nós aprendeu a não mexer com o que está quieto, mesmo quando essa quietude significa que não corre mais nenhum vento de vida ali.
Nossos gestos de desapego são capazes de criar espaço para o novo.
Minha mãe plantou outra muda de planta naquele vaso.
A última vez que vi, estava florida."
Ana Jácomo
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