"No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração. "

Rabindranath Tagore








segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012





Por que a amo?

"Eu não sei por que a amo. Cada vez mais não sei.
Pode ser pelo seu pescoço que se levanta para ganhar altura quando estamos abraçados. Ou será que é pela forma em que dobra as pernas no sofá? Ou quando se contorce em espiral com beijos nas costas? Eu não sei por que a amo. Será que pela sua preguiça, que se enrola em mim de manhãzinha? Ou pela sua disposição de dar a volta por cima? Eu já parei para pensar por que a amo, mas lamento, não sei. Realmente não sei. Talvez seja pelas sobrancelhas que falam antes dos olhos. Ou pelo umbigo que inicia a mão. Ou pelo copo que você balança antes de beber, para convencer a água a partir?

Tantos homens têm um motivo certo para amar, definido como um emprego, e você foi escolher logo um que nada tem a dizer.
Será que é pelo amor aos filhos, excessivo, que sempre me inclui? Ou pela sua vontade de fazer mercado depois do almoço para gastar menos? Será que é pelo modo como canta, o modo como dança, com os braços acenando em linhas sinuosas como fumaça de chá? Será que é pelo toque em meu joelho enquanto dirijo? Pela sua respiração suspensa na penumbra? Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem? Ou pela sua pressa de avisar que chegou, apertando o interfone mesmo com as chaves? Ou quando diz que está com frio no cinema? Ou quando fica muda querendo voltar ou quando fica ruidosa querendo passear? Ou quando pede que eu fique em casa mordendo o lábio de cima? Ou quando me enfrenta com raiva e me diz todas as verdades sem ao menos pedir para sentar? Ou quando sopra os machucados, de quem herdou o costume de soprar machucados mesmo quando não existem? Será que é pela sua predileção em comprar presentes, sempre dando mais do que recebendo? Ou pela tapeçaria no fundo de suas bolsas, com notas, moedas, chicletes, batons e brincos avulsos? Será que a amo por que me irrita a viver mais? Será que a amo por que não me deixa a sós comigo?

Eu juro que não sei por que a amo. Todo dia você se acorda querendo ouvir, eu pressinto, debruçada em meus ombros à espera do sinal, do cartão, das flores, da segunda aliança que é um par de palavras. Mas não descobri e não finjo. Entenderá que faltam motivos, só que sobram motivos. E dificulta-me pensar que se ama por motivos.
 Ama-se por insinuações. Será que é pelo seu medo de sangue? 
Pela sua infância vesga? Pelos seus joelhos esfolados nos móveis? Pela seus amores frustrados? 
Pela sua letra arredondada nas vogais? Pela sua insatisfação com as roupas na hora de sair?
 Pela ânsia em atender o telefone com a esperança de que seja eu a dizer por que a amo?
Eu não sei por que a amo. Não me fale. Quem sabe deixo de amar."

 

2 comentários:

Anônimo disse...

haaaa.se fosse fácil explicar essa coisa do amor...bj querida que tua semana seja mágica..

Edinei Lisboa disse...

ouvi dizer um dia que qdo criança, se ama pq depende de alguém, q qdo adolescente se ama pq precisa de alguém e q qdo se amadurece a gente simplesmente ama. Não é necessário explicar, ou saber. Amar e simplesmente amar é o q faz o amor renascer todos os dias. Td fica claro como se o motivo estivesse em todo lugar q ela está, em lugar nenhum, pq mesmo longe dela eu continuo a lhe amar.


abração.

Argonauta021