"No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração. "

Rabindranath Tagore








sexta-feira, 11 de maio de 2012




"Desapareceu. Assim, como as noites desaparecem em determinada hora depois de uma madrugada de um azul anil intenso. Sem se despedir, sem dar chance de que alguém se despedisse, ele foi embora com suas botas de combate, com seu caderninho e um lápis de cor que usava pra enfeitar sonhos. Talvez até tenha pensado em ficar, talvez quisesse ficar. Não era o orgulho, não era o medo de sucumbir. Era medo de ser de alguém, de pertencer a um corpo que não fosse o seu, de sentir coisas que iam além do seu controle, além do seu entendimento. O medo era de deixar de ser tão incrível por ter sido sempre intocável, tão bonito por nunca ser descoberto por ninguém, tão inspirador por ser mistério. Talvez, ficar o pusesse de cara com o chão. De cara com o espelho. Ficar, talvez o fizesse entender e descobrir que ele era humano. E apesar de gastar tanta inspiração, era bem menor do que suas palavras. Que suas mãos habilidosas eram somente duas mãos habilidosas de um poeta comum, que nada mais é do que um homem de verdade, por trás das palavras e dos papéis. Que suas pernas, apesar da capacidade incrível de locomoção silenciosa e ligeira, eram duas pernas de um homem comum. Talvez ele fosse entender que o que o cobre, além das tuas próprias histórias e fantasias, era uma pele, tão sensível como uma pétala, tão vulnerável ao frio. E que aquilo dentro do peito fazendo barulho, era um coração batendo, fraco como o coração de um homem de verdade. Intenso como o coração de um homem apaixonado de verdade. Imprevisível como um coração de um homem de verdade.
Mas preferiu sair de cena. Retirar-se com a beleza de um pôr-do-sol para nunca deixar de ser poesia. Com lágrimas pateticamente ensaiadas para nunca deixar de ser incrível. Fez parecer que saía levando consigo a coragem maior de todos os tempos, para não se admitir descoberto, para não se sentir estupidamente revelado.
Mal sabia ele, que embora todo aquele sonho inventado vestisse aquela moça de forma tão perfeita. Que embora aquela doçura toda, feita de balés e palavras combinadas embalasse tão bem as noites dela, o que ela esperava mesmo, era o momento exato para amar um homem comum de verdade."




Camila Heloíse

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